Com certeza que, qualquer instrutor de treino, já foi abordado por muitos alunos, relativamente a esta temática e na multiplicidade existente de atividades desportivas. Nós, na nossa Box, não fugimos à regra, naturalmente. A necessidade imediata dos praticantes em visualizar primeiro, e antes que tudo, o futuro, é natural do nosso comportamento.
Quanto tempo leva para ver resultados?
Ao fim de um mês, é possível observar melhorias?
Se treinar duas vezes por semana, chega para obter bons resultados?
Quantas vezes tenho de treinar, para ficar definido?
Bom, antes de mais, é preciso perceber que toda e qualquer alteração, seja fisiológica, anatómica ou psicológica, requer tempo. Quanto tempo? É impossível aferir um espaço temporal concreto, porque existem fatores externos e internos, endógenos ou exógenos, que influenciam uma hipotética aferência realista. A paciência e disciplina são, sem dúvida, o principal potenciador de qualquer resultado.
A busca por uma transformação psicofisiológica, depende de vários fatores, como por exemplo, motivacionais, isto é, gosto pela atividade e o nível de compromisso para com o objetivo. Reação e adaptação do sistema musculoesquelético, que consiste na tolerância ao esforço e à dor, bem como o aumento rápido ou lento da tonicidade muscular. E, por fim, ainda que com outros tantos aspetos fundamentais por apresentar, a plasticidade neuromuscular, que influencia a habilidade e facilidade com que aprendemos a executar os movimentos e os torná-los eficientes.
Como já percebemos acima, somos todos diferentes, ainda que concebidos através da mesma matéria, e respondemos ao stress causado pelo treino, de múltiplas maneiras. Sabemos, porém, que quanto maior for a regularidade e exposição ao treino, mais evidentes vão ser os resultados. A verdade é que desde o primeiro dia de treino, surgem alterações orgânicas no nosso organismo, ainda que, como é óbvio, não sejam visíveis.
“No pain No gain”, ora aqui está um excelente cliché, para emoldurar e colocar junto à cabeceira, quando o relógio toca às 6h da manhã para treinar. A realidade, claro está, não podia ser mais crua e dura, porque este protótipo, vamos lá, de quatro palavras, é realmente legitimo e inquestionável. A dedicação, o compromisso e a resistência, fazem toda a diferença. Aqui é que tudo fica interessante, naturalmente: não interessa se o treino só tem três rondas ou um tempo limite de seis minutos, ou se é longo e implica vinte minutos de um provável sofrimento angustiante, nada disso, aquilo que efetivamente interessa, é o empenho que colocamos na execução da tarefa – apenas e só!
O nosso organismo é uma máquina incrível de gestão energética, e fará todos os possíveis para gastar o menos possível, tal conceito seria de igual forma fantástico, se os automóveis fossem concebidos pela mesma ordem de princípios mecânicos. Então, se a poupança energética é uma consequência biológica, temos de contrariá-la e criar rotinas. A bem dizer, é necessário enganar o próprio sistema e forçá-lo a adaptar-se a uma nova dimensão. Vamos mentir ao nosso corpo, iludi-lo, para depois o tornarmos mais forte – doce contradição.
Sendo assim, o esforço é proporcional ao resultado, ainda que, com as limitações inerentes de cada individuo. Este empenho contempla não só o treino, como também, e não menos importante, o cuidado que temos com o nosso descanso e, sobretudo, invariavelmente presente e de extrema importância, a alimentação. Negligenciar um deles, ou dois, até os três, resulta num profundo distanciamento das nossas aspirações de verão.
A ideia de que tudo é possível, parece-me, e aos investigadores também, algo rebuscada e dissimulada, talvez uma propaganda comercial vantajosa – pois, provavelmente, o six pack é coisa do divino para quase todos nós. Contudo, sejamos paradigmáticos, porque a saúde, a capacidade funcional, a riqueza psicomotora, não depende, e ainda bem, de meia dúzia de curvas acidentais no abdómen.
Existem condicionantes genéticas intransponíveis, tal como responsabilidades sociais e familiares inadiáveis, portanto, o mais importante será estabelecer objetivos exequíveis, em que a prioridade, isso sim, se mostre sincera e objetiva, ou seja, o treino serve para melhorar os nossos indicadores de saúde a curto, médio e longo prazo. Enfim, quem sabe se esta geração de Crossfiters, não serão os pioneiros num novo panorama de envelhecimento salutar.
Bruno Gonçalves